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sábado, 14 de agosto de 2010

Desabafo

Doce Mel

domingo, 18 de julho de 2010

Desabafo

Meu domingo consiste em ir ao clube de campo almoçar com meu marido e meu filho.Exceto em alguns casos, em que estamos viajando, muito raros por sinal, ou recebendo alguns amigos, ou indo a algum compromisso muito significante, ao qual não se pode negar a presença. Os demais são repetidamente iguais.

Hoje, o meu domingo está sendo atípico. Vou dizer porque:

Moramos aqui no "Cantinho do Céu", meu marido, meu filho de 33 anos e eu. Um casal de funcionários, necessários à lida diária, porém, nos finais de semana eles têm seus compromissos dominicais, como toda família normal.

Não foi sempre assim.Temos mais dois filhos que conviveram muito conosco e nos dão muita alegria. Foram crescendo. Estudaram fora. Voltaram. Começaram a trabalhar. Encontraram seus amores e "criaram asas". Casaram. Estão formando cada um a sua família. Fato normal e previsível.

Mas eu tenho um filho, este que está conosco, que não "criou asas". Não por escolha própria, mas porque suas asas não se desenvolveram normalmente.Ficaram sem desabrochar, ( como as flores mesmo ).ou como posso dizer, ficaram "asas aladas".São as asas de seu cérebro.

Claro que fizemos tudo que nos foi possível para desenvolver suas capacidades; torná-lo pelo menos uma pessoa independente, socialmente possível de se conviver. Uma luta árdua de muitos anos. Tivemos êxitos. Mas também encontramos muitas dificuldades, devido suas limitações. Limitações que só o cérebro dele conhece, porque ele não sabe nos contar. Fala estritamente o necessário para fazer-se entender. Porém o que sente, o que pensa... isso não nos é permitido saber realmente. Só intuir ou imaginar.



Ora, ora, eu comecei mesmo é falando do meu domingo atípico:





Tivemos hoje um compromisso numa associação beneficenteà qual pertencemos. Como isto está acontecendo hoje, num domingo, resolvemos, que só meu marido participaria. A mim caberia levar meu filho ao clube para almoçar.

Poderia ter contratado alguém para ficar com ele, como já o fizemos muitas vezes. Mas o domingo, sempre que possível, nós dedicamos a sair com ele, que a semana toda fica em casa, sem nada para fazer; a não ser procurar alimentos na geladeira, ouvir sempre o mesmo DVD da Rita Lee, ligar e desligar as TVS da casa ou voltar para seu quarto semi escuro e se deitar.

( Agora mesmo, interrompo o que escrevo, estou ouvindo o som de água de um chuveiro ligado. Tenho que auxiliá-lo no banho, enxugar, passar desodorante, escolher a roupa, passar desodorante...)





Voltei...





Ele não é sinônimo de silêncio. Utiliza-se de gritos constantes e frases repetitivas, as quais temos que responder ou repetir tantas quantas vezes for necessário para acalmá-lo. Não é uma criatura agressiva. Ainda bem! Mas também não é carinhoso e nem corresponde aos carinhos e agrados que lhe proporcionamos. Ele já é um adulto-criança, com comportamento típicamente AUTISTA, mas que possue a SÍNDROME DO X FRÀGIL.

Então, eu estava no clube com ele. Quando cheguei ao restaurante ele, como saiu à minha frente correndo, já havia comido uma coxinha, pedindo a segunda. Escolhi uma mesa e olhos e ouvidos atentos ao que ele comia e bebia. Pedi ao garçon, já antigo conhecido, alguma coisa para comer e beber e passei a observar meu filho e também as pessoas ao meu redor.

Notei na mesa à minha frente, um casal, parecendo ter a minha idade e outro casal mais novo. Chegou então um garoto de aproximadamente 5 anos, todo feliz, vindo da brinquedoteca ao lado, mostrando seus desenhos; ao que todos elogiaram e se alegraram. Pela conversa, percebi, eram os avós e os pais do garoto.







Foi aí, bem nesse momento, que eu sorri para eles, mas foi um sorriso que saiu carregado de uma profunda tristeza. Um pensamento muito forte: Se meu filho fosse normal, nesta hora eu não estaria ali cuidando dele, mas quem sabe, desfrutando com ele e sua esposa, as peripécias de seu filho - meu netinho.

Um aperto no coração e lágrimas querendo sair de meus olhos. Tentei me controlar. Comi o necessário. Esperei meu filho se saciar de salgadinhos e refrigerantes.Paguei a conta e voltamos para o carro, rumo à nossa casa.

No caminho, liguei o rádio, para me distrair e quem sabe para não ouvir as palavras repetitivas de meu filho. Eu tinha que tirar aquilo de minha cabeça, afinal, essas não eram minhas primeiras lágrimas.

Chorei quando meu filho nasceu.

Chorei quando soube que ele não era normal.

Chorei quando não encontrei escola que o aceitasse.

Chorei quando ele escapou de minhas mãos e eu o perdi.

Chorei quando ele pulou numa piscina funda e eu não sabia nadar.

Choro quando ele come muito e se engasga perigosamente.

Choro quando ele dorme e sua apnéia me assusta.

Choro muitas, e muitas vezes chorarei ainda.





Mas é sempre um choro calado, como o de hoje...



Chegamos ao portão do nosso Cantinho".

Quando o abri e entramos, aí sim chorei descontroladamente, sosinha, porque meu filho, ali dentro do carro comigo, não é capaz de reagir ou demonstrar saber o que estava acontecendo comigo.

Eu estava só, e desta vez tive medo. Muito medo!

Tive a impressão de ter visto um pedacinho de solidão entrar comigo pelo portão...



Há muito eu queria falar desse meu filho, que amo tanto quanto amo os outros dois. Relutei. Não resisti. Pronto. Falei!!!

Um comentário:

  1. Resolvi copiar esta postagem do outro Blog - Doce Mel. Isto se deve ao fato de que este assunto está muito ligado aos atuais temas deste novo Blog, como também dos próximos que virão. Quem seguir, entenderá. Nessa minha tentativa, houve alguns erros técnicos. Coisa de aprendiz... Obrigada!

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