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terça-feira, 20 de janeiro de 2015



Donde eu vim?

CAPÍTULO III

O Olho D'água

Lá no sítio onde eu morava, meu pai, econômico que era, após cada boa colheita de café, foi comprando algumas glebas, sempre vizinhas ou do outro lado do rio. Com isto, ele formou um pequeno patrimônio, e pode ter uma renda suficiente para criar seus oito filhos.
Recordam quando eu disse que era a "bendita fruta" entre os 3 meninos? Pois a prole foi mais além: tive (tenho) mais dois irmãos e duas irmãs que nasceram, religiosamente, de dois em dois anos depois. Enquanto uns já estavam saindo de casa para estudar mais, uma vez que lá só tinha escolaridade até o quarto ano primário, outros eram pequeninos ou nem tinham nascido.
Quando eu beirava lá os meus sete anos e já havia entrado no grupo escolar, foi que meu pai adquiriu a penúltima gleba que media uns 10 alqueires.
Lembro-me bem de nossa alegria quando ficamos sabendo que aquele pedaço de chão tornou-se nosso, de escritura passada e tudo.
Por que tamanha alegria?
Acontece, que mesmo antes disso, nós, crianças muito levadas, a despeito de toda a autoridade de meu pai, conseguíamos, furtivamente, pular a cerca de arame farpado e nos debandar para os lados daquele sítio.
Nele havia ainda uma mata "virgem", com algumas trilhas que descobrimos. Nossa curiosidade foi nos levando mata a dentro até chegarmos, seguindo a direção de um burburinho que ouvíamos, num lugar mágico... Sinto até hoje a gostosa sensação que aquela visão, pelo menos a mim, proporcionou. Ficamos ali estáticos diante da descoberta:
Num pequeno clarão, onde um pouco da luz do sol conseguia penetrar, diante de nossos olhares ávidos e curiosos, um enorme olho d'água brotava direto do solo de areia branca e fina.
Jamais nossos olhos haviam se deparado com uma nascente desse tipo. Conhecíamos apenas a nascente do riozinho que divisava nossa terra lá embaixo, o rio Mangueirinha, que era tão a céu aberto que percorríamos até sua nascente numa fazenda uns sete quilômetros acima, cujas águas surgiam duma pedreira escorregadia e de perigoso acesso.
Mas esta não! Ela brotava
numa cascata no sentido contrário, de baixo para cima. Sua água subia com força uns dois metros e depois caía copiosamente, respingando por todos os lados, qual fonte luminosa (só vim conhecer uma anos mais tarde para fazer esta comparação) formando uma pequena lagoa e escorrendo mata a dentro dando início a um ribeirinho.
Meu pai certamente sabia da existência desta água; o que ele não sabia é que nós já estivéramos lá muitas vezes nos deliciando com nosso segredo, uma vez que éramos proibidos de atravessar a cerca daquele incógnito proprietário.
Quando tornou-se pública a aquisição daquele sítio por meu pai, tivemos a liberdade de visitá-lo sempre e conosco, mais uma penca de garotos da pequena redondeza.
Alguns anos mais tarde, foi possível meu pai fazer uma caixa de concreto, instalar uma roda da'água e canalizar água até nossa casa. Isto facilitou muito o trabalho de todos que precisavam baldear a água de poços muitos deles bem fundos. Para minha mãe, foi uma "mão na roda", tanto eram seus serviços domésticos.
Passados mais alguns anos esta mina foi cedida para a abastecer toda a cidadezinha próxima, da qual fazíamos parte.
Eu já tinha meus dezoito anos e estudava numa cidade maior, quando meus pais e irmãos menores mudaram-se para a cidade, onde todos podiam continuar seus estudos. Só meu irmão gêmeo ficou no sítio e por lá mora até hoje, com seus filhos e netos.
Tenho muitas lembranças para contar dos tempos em que lá vivi, mas esta, de meu pai ter cedido a água para a comunidade, hoje vejo, é com certeza, a mais significativa, pela gratidão que ele ainda recebe de todos que, com aquela saudável água saciam sua sede...

**Não possuo uma única foto da mina, como a vejo em minha memória. Esta imagem abaixo mostra como é atualmente aquela área, Ao fundo, agora uma pequena mata onde se encontra a mina. (foto: Tadeu Ludwig)

mel - ((*_*))

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