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domingo, 5 de dezembro de 2010

Minha Primeira Boneca

         Quando garotinha, lá com os meus seis ou sete anos, eu não possuía nenhum    brinquedo de fábrica. Todos eram confeccionados em casa , em conjunto com as coleguinhas da vizinhança e até com a ajuda de meus irmãos, que eram muitos.
         Fazíamos  bonecas de sabugo.É, sabugo mesmo, aquela parte que sobra quando descascamos e debulhamos o milho já maduro. Escolhíamos o melhor e maior de
   todos os sabugos disponíveis no paiol. Cortávamos retalhos de tecidos, doados por minha mãe, que sempre guardava os numa sacola, pendurada atrás da porta de seu quartinho de costura.
         Escolhido o tecido, pegávamos a parte mais grossa do que seria o corpo da boneca,    e nele colocávamos o retalho, como se fosse uma touca e amarrando firme com uma tirinha de tecido, para não se soltar ( porque cola nós não tínhamos). Em seguida, escolhíamos outro “paninho”, e fazíamos uma saia pregueada ou franzida com as mãos mesmo, nada de agulha ou linha. A coleguinha ajudava a amarrar novamente. Com um lápis preto usado na escola, desenhávamos os olhos e com sementes de urucum, a boca.
   Pronto! Estava ali nossa boneca! Linda! Cada uma com a sua. Diferente umas das outras, devido a escolha dos retalhos coloridos. Felizes, íamos brincar por horas a fio...
        Um belo dia, uma priminha da cidade, veio com meus tios nos visitar. Trouxe consigo uma boneca de verdade! Fiquei encantada. Nunca havia visto uma, e tão linda!
        Daquele dia em diante, minha vida mudou. Não quis mais saber de fazer boneca de sabugo. Eu queria uma boneca de verdade!
        Chorava e implorava para minha mãe. “Quem sabe no Natal”, dizia ela. Pedir para meu pai, nem pensar. Para ele brinquedo era desperdício de dinheiro. Era o jeito dele de ver este mundo infantil...
        Posso jurar, foi o ano mais longo de minha infância.
        Eu queria minha boneca de verdade e ela  só viria no Natal.
        Chegou o Natal, como tantos outros, mas para mim era diferente. Eu teria minha boneca de verdade. O “talvez no Natal” não existia pra mim.
        Fomos ver os presentes debaixo da árvore, bem  cedinho. Cada um procurando o seu, embrulhado com papel comum, mas com o nome marcado com a letra de minha mãe.
         Mas cadê a minha boneca de verdade? Ela não veio!!! Ganhei sim, uma sombrinha         de criança, que no dia seguinte já estava quebrada.
         Chorei, chorei e levei uns petelecos de meu pai. Ninguém me consolou. Acontece que eu só tinha irmãos meninos ao meu redor e duas irmãs pequeninas que não poderiam compreender a minha tristeza. Minha mãe também não tinha tempo para perceber que este fora um Natal muito triste para mim, mas prometeu-me que daria um jeito.”Talvez” na próxima ida á cidade grande, na época das compras.
        Minha tristeza durou pouco, porque janeiro era o mês do padroeiro da cidadezinha, onde freqüentávamos a escola, o catecismo e as missas dominicais. São Paulo, lembro-me ainda, o padroeiro da capela do povoado, e o nome do sítio de meu pai, onde morávamos.
          Todo ano, nesta  data, os  moradores se reuniam e faziam uma bela quermesse, com direito a  visita do bispo, padres de outra outras paróquias, fazendeiros, sitiantes, colonos  e todos os moradores  daquele lugar.
         Para a quermesse, eram  doados bezerros, leitoas, carneiros frangos e artesanatos feitos pelas mulheres e moças prendadas da  comunidade.
         Uma rifa foi feita, cujo dinheiro iria para a reforma da capela. Um bezerro era o premio e de brinde, vejam só, uma boneca confeccionada por dona Mariquinha, uma  mulher muito conhecida  por suas habilidades na agulha.
         Quando eu vi aquela boneca, fiquei deslumbrada.
         Eu queria uma boneca de verdade! Esta era minha chance!
         Procurei por minha  mãe, que estava na cozinha de uma das barracas ajudando outras mulheres. Implorei  que comprasse um número, porque eu queria uma boneca de verdade!
         Meu pai não era dado a gastar dinheiro com estas extravagâncias, mas naquele dia ele sucumbiu  às minhas súplicas e cedeu.
         Chegou a hora do sorteio! Bingo! Meu pai ganhou o bezerro e eu ganhei a minha boneca de verdade!
         Ela era linda! Tinha uma aparência diferente. Fora feita à mão. Era uma boneca de pano com jeito de  moça. Um lindo vestido de rendas, cujo decote mostravam o início de fartos seios. Eu achei ótimo, minha boneca de verdade, com  corpo de moça feita, seria a mãe de todas as bonecas de minhas coleguinhas da vizinhança. E foi mesmo!
        No dia seguinte, todos já em casa, de tardezinha, fomos brincar  de boneca, tamanha era a ansiedade. Fizemos, eu e as outras meninas, uma casinha dentro de um bambuzal, e lá ficamos por horas, nos deliciando em nossas fantasias de mamães e comadres. Sim,  porque toda boneca era batizada, ganhava um nome e uma madrinha.
        Passado algum tempo, minha mãe me chamou para ajudá-la no banho das irmãs menores.  A brincadeira se desfez e  aos poucos anoiteceu.
        Acordei aos pulos no dia seguinte. Havia esquecido a minha boneca de verdade lá no bambuzal. Corri para buscá-la . Qual não foi meu espanto quando a vi: estava toda encharcada, estufada, desbotada, manchada, descolorida....Quase decomposta.
        Havia chovido a noite toda!!!

4 comentários:

  1. Mel, a minha boneca era uma aeromoça, muito linda!!! A mãe trabalhava em uma loja de brinquedos e sempre trazia novidades entre muitos jogos. A boneca que sempre sonhei ter é uma Suzi, agora poderei comprá-la. Comecei uma coleção de bonecas de porcelana.Abs.

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  2. Mel, você já se deu de presente uma linda boneca? Sugiro que neste Natal você vá a uma loja, torne-se criança e com aqueles olhos de outrora, escolha a sua boneca, mande embrulhar para presente, escreva seu nome e coloque embaixo da árvore. Beijos.

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  3. kkkkkkkkkkkk, só você Marta!!! Ainda consegue me fazer rir...Mito bom! Um beijo bem infantil!!!!

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  4. Amiga vc me fez voltar ao passado quando ganhei uma linnnnnnda boneca, era do meu tamanho, loira,um cabelo cummmmmprido, um vestido estampado com flores.
    Nossa! Fiquei muiiiito feliz...
    Bjos.

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